segunda-feira, 16 de março de 2015

Tristeza em 7 cordas


Senhores, esse é um post diferente do que costumamos fazer.  Hoje, vamos falar sobre sertanejo.

Sim, isso mesmo.


Nós aqui somos predominantemente do rock, mas crescemos ouvindo sertanejo e , por conta disso e também da qualidade de muitos dos exemplos da música raiz "caipira", gostamos e admiramos demais o gênero, e infelizmente tempos muito o que falar sobre hoje.

Na últimas duas semanas que se passaram, a música raiz do Brasil perdeu dois de seus maiores expoentes: O garganta de ouro performático José Alves dos Santos, conhecido como José Rico; e uma das pioneiras da música caipira, a diva do sertanejo e uma das primeiras mulheres a dar a cara num cenário machista, Inezita Barroso.





































José Rico, da dupla "Milionário e José Rico", por mais que o nome possa sugerir, não cantava sobre ostentação.
Terminou em 2015 uma parceria que durou 42 anos. Os "Gargantas de Ouro" foram responsáveis por popularizar e muito a música sertaneja, que pode ser tida para muitos hoje como brega.
O teor de sua música contém personalidade e mensagens positivas, sobre amor e boa vontade e a não segregação, tudo isso em tempos que não se falava sobre isso.
Com uma atitude sempre performática em palcos, sem contar em seus incontáveis adereços de ouro pelo corpo (sim, mesmo com a aparência brilhante e vários utensílios de alto valor a mostra, suas apresentações e músicas não falavam de dinheiro e bens materiais) José Rico cativava muito e fazia com que suas canções, quer sejam suas composições ou não, ultrapassassem gerações e fossem muitas e muitas vezes regravadas.
A dupla conseguia fazer músicas com temas universais e sentimentais, que contém em sua cerne sabedoria de pessoas que sabiam que a vida não pode ser vivida sob aparência.Sem contar na personalidade dos próprios arranjos da dupla. Viola, violão, acordeon e um estilo que virou padrão na música sertaneja até anos 90.  Entre as músicas em seus shows, clássicos como "Estrada da vida" , esse talvez o maior clássico da música sertaneja e "Sonhei com Você" eram interpostas por discursos positivos e reflexivos sobre a vida, e como ela tem que ser vivida na eterna busca por amor e paz.
 Isso, são palavras de José Rico, verdadeiramente rico.


Já Inezita não era só cantora. Era, acima de tudo, uma estudiosa da cultura brasileira.
Teve ela lampejos, interpretações e com certeza influências de outros estilos musicais, principalmente de fora do Brasil. Gostava muito de Jazz e Blues, mas por se importar tanto por culturas regionais (daqui e de outros povos), se encantou com folclore e cultural oral, e por isso a conhecemos tanto por sua contribuição para o Sertanejo.
Em sua agenda apertada, Inezita achava tempo para ministrar aulas sobre folclore. Sim, ela era doutora Honoris Causa nesse tema, dividia seu ensinamento de cultura oral entre a música e a gravação do programa que mais tempo ficou na ar na tv brasileira. O programa "Viola, minha viola" era apresentado por ela, e semanalmente recebia diversos músicos da cena caipira nacional para comentar e cantar junto e para ela.


Mas tudo bem. Foi só uma nota de saudosismo e mini-biografia que eu fiz? Não, tem mais.

Quando saíram as duas perdas da  música brasileira, eu fui um dos primeiros a dizer que : "O Sertanejo Morreu"

E não é papo de chato, de irredutível e de alguém que não olha pra frente.  A música perdeu dois expoentes com contribuições inacreditáveis para a cultura e formação de identidade. Sem eles, o conceito de música sertaneja e caipira seria diferente.
Suas contribuições não serão perdidas, provavelmente. Pois vivemos numa época de fácil informação e alguém, com o tempo, se irá dispor de pesquisar mais a fundo para falar de dois tótens caipiras como esse.
O meu ponto é: a tristeza que é ver o sertanejo de raiz não ser passado para frente.

Hoje, o nosso sertanejo é o universitário. E o sertanejo universitário nada mais é que música pop. (Por mais que essas influências estrangeiras na música raiz já existe desde a década de 90, principalmente com Zezé di Camargo e Luciano)
Sim, os arranjos, as letras muitas vezes fúteis e com rimas pobres e , principalmente a superficialidade que exala desses dois pontos empobrece a música nacional e faz dela um produto chapado, que é baseado em música extremamente simples (sim, eu sei que simples não é sinônimo de ruim) e letras sobre nada, sobre besteiras.
Faça o teste: Ouça uma rádio hoje e tente diferenciar os cantores sertanejos. Não digo no quesito influência, e sim na padronização (de novo) de um dos ritmos mais únicos desse país continental. Hoje em dia, você tem dois tipos de cantores sertanejos: Os que cantam parecido com o Gustavo Lima e outro que canta parecido com Jorge e Matheus.
As pessoas perceberam que isso faz sucesso, e aí vem todo mundo na mesma forma e faz o mesmo tipo de música, sem nenhuma coisa única, o que empobrece quem ouve e o estilo musical.


Esse tipo de crítica pode ser um calo no sapato de muita gente. Não sou crítico musical, muito longe disso, mas estou aqui disposto a ouvir críticas e , principalmente conversar (nos comentários, por favor né)

E antes de me ir, deixarei vocês com duas músicas, uma de cada um dos citados. Essas músicas fazem parte de lista do youtube. Se gostares, ta aí uma boa forma de conhecer mais desses (infelizmente) já saudosos.