sábado, 2 de fevereiro de 2013

Conto 001 - Estagiário

Olá povo, viu cumprir uma promessa feita em tempos idos.




Aqui está o primeiro conto que eu termino! (Porque esboço mesmo tem uns 30).

Espero que vocês gostem! Mas pera, antes da leitura, preciso explicar uma coisinha:

Olha só, deixei a pontuação do texto propositalmente confusa olha a desculpinha pra poder escrever errado.
Acho que isso faz o tema do conto ficar mais completo, sei lá.

Pois bem, espero que você, querido leitor, possa curtir esse primeiro conto, que é um conto quase de drama. Se você achar uma merda completa, não tem problema algum, aceitarei a crítica muito bem.  porra nenhuma seu fdp, fiquei mó tempão escrevendo essa merda pra tu vir em 2 minutos e avacalhar o processo?

Enfim, saboreie o texto e diga nos comentários o que achou. Sua opinião é muito importante para nós.



---------------------------------------------Agora começa-------------------------------------------------


Trata-se de nervosismo.  -  Pensou.
Aos mãos jaz brancas, trêmulas,  pálidas aos montes, até mesmo para ele.
Acostumou-se , em vida, de maltratar muito as pessoas . Maltratava-as de forma sublime, como um lorde. Negava um simples sorriso a quem lhe queria bem, fingia não ver os amigos, colegas e familiares na outra parte da avenida, guardava para si só o amor que queria compartilhar. Acostumou tanto a fazer esse mal invisível que, acabou por absorvê-lo, fazendo com que naturalmente se voltasse contra sua fonte. Seu mal indiferente, invisível , insensato, inocente e sem querer se transformou em patologia. E não foram muitos anos desde a adoção dessa prática para se concretizar uma depressão. Morrera por conta disso.
...

É tudo escuro em sua frente. Ainda é possível se escutar a reverberação do estampido do revolver no tímpano. Certas frequências ecoam por toda a eternidade. Por mais que ele soubesse que estava realizando um movimento para abrir os olhos, o mundo continuava escuro. É tudo muito frio, é tudo muito solitário, é tudo muito parecido com a infinidade de seu antigo quarto.
Subitamente, os momentos de razão que o faziam questionar por sua meditação pós-mortem se romperam, e toda a lucidez se perd...

...era!

E tão subitamente quanto a perca , a volta da memória se faz!
E ele está sentado em uma cadeira, num restaurante qualquer.
A visão ainda é turva, por mais que ele soubesse que não é possível mais ter nenhuma afiliação com o mundo sensorial. Mas a visão era turva. O estampido do revolver ainda estava lá, baixo, mas estava lá! Os lábios ainda estavam sensíveis pelo último beijo na namorada, que foi dado próximo de uma hora antes da morte mas... a quanto tempo ele está morto? Ele se lembra que foi numa terça feira, e que chovia muito.

Se esqueceu de seus dramas internos por um momento, não fazia muito sentido pensar neles agora. Por mais que ele agora saiba que há vida após a morte e que se mantém as memórias pregressas, pra quem ele iria contar? Por fim, resolveu seguir a investigação do lugar aonde estava e porque lá ele estava.
Olhou para fora da janela, é um típico restaurante nova iorquino. Servem-se pizzas aqui. 9 dólares o combo do dia.

Mais uma investigação na pizzaria é feita. Vários preços, várias pessoas, várias pessoas atrás do balcão forçando sorrisos, como ele fazia em vida. Agora, do outro lado do manto da mortalidade, era muito mais fácil pra ele perceber as emoções das pessoas. Era visível o descaso e o desespero controlado das pessoas.

Uma mãe de família adentra a porta, que estala um sininho que estava preso no batente. Ela forçava um sorriso para o atendente e pedia o combo família para a viagem,no total de 15,50.
Ele , da sua cadeira  olhou para fora da porta, da onde a senhora vinha. O pós mortem o deu poderes, por assim dizer.  Ele já descobriu que pode saber mais das pessoas só de olhar, e agora descobriu que sua visão corre mais rápido que quando era vivo. Olhou pra porta antes dela fechar e viu uma jovem dentro do carro da onde a senhora saiu, estralando o sininho e pedindo o combo. Olhou e a viu chorando. A porta fechou.

A senhora recebeu seu pedido. O sorriso de “obrigado, pra você também” que ela deu para a atendente já estava no meio do declínio antes mesmo de  ter se virado toda pra trás, e ele sacou tudo que estava acontecendo. Uma pizza para toda uma família, aonde a mãe e a filha tentarão  contar ao pai da família sobre a novidade, sobre o que ele acha de ser avô nos próximos 6 meses.

Ele ficou espantando com o seu poder de “vidente”. E aonde ele estava sentado, a cadeira foi puxada, e seu corpo translúcido foi , com o susto , para o mesmo lado da cadeira. Uma pessoa sentou-se na cadeira, sem sentir nada de estranho lá. Ele , por alguns instantes, ficou muito espantando com a situação. Esperou durante alguns segundos, torcendo para que o senhor que havia depositado sua bunda em seu colo fantasmagórico sentisse algum desconforto. Nada aconteceu. Ele levantou, passando seu tórax por entre uma gota de maionese que escorre da calabresa na ponta do pedaço de pizza.

Ele não tinha muita coisa a fazer naquele momento. Pensou em sair na rua, estava armando chuva. Quando vivo, ele adorava caminhar na chuva, mas na sua atual condição, seu passeio divertido seria apenas um passeio. Resolveu ficar na loja. Procurou  entender o motivo de estar ali naquela loja, de ter sido jogado por forças superiores ali. Procurou alguma coisa em suas vestes fúnebres, e nada encontrou. Se moveu até um vidro que poderia revelar alguma coisa, mas tudo que ele viu foi o ventilador de teto. Toda a literatura fantástica que ele consumiu quando vivo não serviu para atentar seu cérebro morto que fantasmas não tem reflexo.  Mas calma, espera, não foi de toda inutilidade essa revista! Viu, por um quarto de segundo, um ponto de luz fosca  em sua mão. Focalizou suas forças naquele ponto e lembrou de vultos. Lembrou do revolver, do beijo, de sua mãe, de seu pai e de um homem de terno preto, sem gravata. A cabeça do fantasma girou, eram muitas lembranças. Ele caiu no chão. Engraçado que mesmo sendo fantasma, ele não passava do chão, sabe-se lá por que. Antes de desmaiar, ele lembrou do revolver, do estampido, e dos gritos de sua irmã ao ouvir o barulho do revolver e, antes de perder a visão, viu que seus olhos estavam de frente para um calendário. Era uma quarta feira,  e pelo mês, já se passaram 4 meses desde o incidente do suicídio. E seu último exercício de memória antes do apagão que se manifestava foi sentir, e o sentimento foi arrependimento.

E novamente ele acorda. E rápido ele se levantou. Não sentiu náusea alguma, percebeu ele que isso era privilégio dos carnais. Olhou ao seu redor e viu que ainda tinha muita gente na loja. Ficou feliz por ver que ainda estava no mesmo local e num tempo próximo daquele que ele se encontrava antes do desmaio. O

Atendente infeliz continuava infeliz, mas mostrava um pouco de alegria em seu olhar ao pensar que ele estava mais próximo do fim do expediente, e o senhor de camisa azul do canto esquerdo da sala estava se levantando para pagar a conta. Pouco tempo se passou, em suma.

Ele olhou para fora, gotas de chuvas caiam vagarosa e silenciosamente. Um carro vira a esquina que dá em frente a loja. Era o último lançamento de 3 anos atrás, já deve ter perdido 30% de seu valor original. O carro parou na frente da loja. Saiu um senhor bem acima do peso. Ele já ia se esquecendo da pasta do trabalho, quando rapidamente sentiu o peso do artefato, fazendo o abrir a porta de trás, para arremessar a pasta que quicou no banco, esbarrando no vidro na parte interna.

O senhor se dirige a entrada da loja. Ele entra. E ele logo pede o combo família para comer ali. Deu 15,50.
Em poucos minutos ele recebeu seu pedido, sentou na mesa de frente para o nosso fantasma. Ele deu a primeira mordida. O nosso amigo não sabia ainda por que perdera tanto tempo olhando para o senhor acima do peso.

E já é o 3º pedaço da pizza, restam 5. A vida de morto do nosso protagonista é extremamente chata, como vocês perceberam. A única coisa que ele está fazendo não tem nenhum sentido. Já é o 6º pedaço.

E em pouco mais de 5 minutos, o senhor pega o último pedaço de pizza. Parabéns a ele, em menos de meia hora, uma pizza tamanho família. O senhor mordeu a pizza. E na nuca desse senhor, uma luz fosca brilhou. E brilhou sem brilho como a luz das costas de sua mão. E ele sentiu vontade de tocar na luz do senhor, e como não tinha muitas coisas para desejar nessa nova vida, ele tocou a luz. E a luz se desfez.
O senhor se engasgou com a pizza. Foi a calabresa.

Ele tossiu, tossiu muito. Sua fronte ficou exaltada, sua pela ficou vermelha. O atendente veio correndo, a tristeza do trabalho foi substituída pelo medo de algum processo.

O Senhor tossiu mais. O senhor parou de respirar, usou sua boca só para tossir. O atendente tentou fazer a manobra heimlich, que não funcionou. O senhor viu seu corpo se tornar pesado, fazendo com que as costas fossem contra a gravidade. O Senhor foi ao chão. E o fantasma viu a luz sumir de sua mão.
Olhou nos olhos do senhor, e viu que eles correspondiam.

Ele agachou para enfrentar melhor os olhares do senhor. Olhou para ele com olhos de pena, com olhos da incapacidade que ele , em sua condição de morto, tinha. Ele sentiu algo, que, se fosse em sua matéria carnal, o faria chorar. Ele percebeu que a agonia do senhor era sua culpa. Ele, ainda agachando frente ao corpo quase sem consciência, sentiu uma mão no seu ombro. Ele se virou, e olhou um terno preto.

Como se sente agora? Tirando uma vida diretamente? -  disse o moço do terno.

O nosso fantasma só olhou para o terno sem gravata, o rosto era um turbilhão de luzes foscas.  Seu olhos estavam mareados em lágrimas.

Pois é, eu sei que você esqueceu de tudo que conversamos antes, eu tinha lhe dito que você viria pra cá. Lhe contei o porque, lhe contei o que você viria fazer. Você veio destruir uma vida! Olhe só que coisa legal! Você finalmente soube o que você fez na vida de todos aqueles que você maltratou em sua omissão de diversos fatores. Bom, você fez esse trabalho pra mim, e eu lhe agradeço! Mas deixa eu terminá-lo.  – Completou o moço do terno.

E o moço do terno foi de encontro ao moço gordo. Ele olhou com ternura para o gordinho, que a essa altura já tinha ouvido toda a conversa dos dois. O moço do terno segurou a mão do gordinho, que viu sua vida esvair.

E em pouco tempo, a pizzaria toda estaria ao lado do senhor gordo. Ele já não tinha mais vida. O moço do terno se dirige a porta. E ele a atravessa. E já do lado de fora, ele chama o nosso fantasma, que está atônito a tudo isso. Mas ele vai, sem olhar para trás.

E do lado de fora, o fantasma olha para a esquina e vê o senhor gordinho chegar, num estado físico condizente com o dele: o de espectro.

O moço de terno se revela:

- Sou um ceifeiro. Te disse isso no nosso outro encontro. Só fiz você fazer meu trabalho para você ver na prática e em pouco tempo com o que você fazia em vida. Você tinha tudo para mudar isso, você tinha tudo para ser um ponto de alegria na vida de várias pessoas que você cruzou e que cruzariam em seu caminho. Mas você não deu uma chance delas serem felizes com você,  e nem se deu uma chance de mudar, não se deu uma chance de sair de sua tristeza auto simulada. Você falhou nessa vida meu amigo, e eu te mostrei o porquê.

O nosso fantasma já se encontrava de joelhos, ele consentia com o que o ceifeiro dizia. Ele sabia que dava pra mudar, que dava pra fazer sua família e sua namorada feliz. Mas ele desistiu de si e, tudo que ele queria nesse momento, era deixa de existir de qualquer forma.
 -  Sinto sua dor, amigo. Não nasci ceifeiro. Fiz coisas tão terríveis e tão silenciosas quanto as suas, vi minha felicidade e vida se esvaírem como o último trago do cigarro, que de físico e cilíndrico se transforma em fumaça em um segundo. Mas todos os cães tem direito ao céu, meu amigo. Olhe para ele agora.

O fantasma olha para cima, quase perpendicular ao topo de sua cabeça. Há uma luz. Que é calorosa , sublime e brilhante, diferente daquela que o guiou para ceifar uma vida. O fantasma ficou vislumbrando a luz acalentadora,  e viu de canto de olho o ceifeiro dando indicações ao senhor gordinho, sobre o que ele teria que fazer para se redimir também. Invariavelmente, o ceifeiro teria que explicar isso tudo novamente. O Ceifeiro pelo visto gosta de um discurso.

 -  Ei rapaz, se levante, todos os vagabundos merecem uma segunda chance! Feche os olhos e pule, você recebeu uma nova chance. Farás um treinamento de 6 meses, tu terás que nascer de novo, em breve, numa família com bastante problema, tente reuni-los.

O fantasma que mudaria de status riu de tudo, pois ele entendera a situação. Ele fechou os olhos e pulou. E tudo ficou escuro, porém acalentador.  E antes de cair num torpor de 6 meses e de total esquecimento, ele ouviu uma voz de longe, e reconheceu como a de sua progenitora:
“Está tudo bem meu filho, eu te perdoou, vá em paz, até um dia.”